domingo, 3 de fevereiro de 2008




COISAS SIMPLES, MAS VALOROSAS…

Perguntei um dia a Timóteo Barqueiro, camponês e pescador deste Mondego que eu gosto, como fazia ele para estar permanentemente contente e feliz…

E o meu velho amigo Timóteo, tisnado pelo sol, marcado pelo frenesim do seu esforçado labor e já com claras evidências do correr dos anos, vincadas ora com crises de bicos de papagaio ora com a dolorosa ciática, atalhou-me candidamente que isso não era verdade, que também ele tinha momentos de tristeza, de desalento, de cansaço, de dor, de inquietação e até de profunda preocupação pelo cada vez maior despojamento e falta dos valores da nossa sociedade, valores esses que segundo ele, velho Timóteo, faziam até há bem pouco tempo atrás, a diferença entre o homem e os outros animais.

Insisti perguntando-lhe como é que estava sempre com o sorriso nos lábios e a assobiar melodiosamente.

Então Timóteo Barqueiro, com contida humildade, confessou-me que para enfrentar as mágoas que ás vezes carregava dentro de si “conhecia bem o remédio, embora nem sempre, em tempo preciso, o soubesse utilizar : sair de si mesmo “, e partir em busca da alegria até onde ela estava ( no olhar de uma criança, no balido de um cordeiro, no coaxar de uma rã, num pássaro a voar em liberdade, numa flor brotada seja ela de alcachofra de rosa ou de orquídea, tanto fazia ). E sobretudo, ter interesse pelos outros concidadãos, perceber que eles têm o direito de o ver bem disposto e alegre, fruindo da sua serenidade, da sua paz interior, do seu gosto pela vida, que existe na sua alma, por debaixo das próprias amarguras, inquietações e dores.

Camponês e Pescador, o meu amigo Timóteo, sempre me deliciava com o seu saber e com o seu sentir das coisas boas da vida, como homem simples, generoso e afável, solidário até mais não, contudo indefectível na defesa da cidadania vivendo a par e passo em plenitude, de bem consigo e com o seu próximo.

Sentir-me ia satisfeito, que os amigos leitores, retivessem desta conduta de Timóteo Barqueiro, a saborosa substância que contém. E que descobrisse aquilo que infelizmente muitos esquecem.

Este meu concidadão, homem simples, ancião experimentado da vida, dizia-me ainda por fim, que quem passa os dias enroscado sobre si mesmo, carpindo nos seus fundamentalismos, não dando espaço criativo às ideias dos outros, afogando-se em água joelheira nos seus modelos e nas suas inquietações, nunca pode estar alegre nem feliz consigo. Quem renuncia a este olhar só para o seu umbigo, aposta na sua paz de espírito e se dedica a dar mais aos outros, desinteressadamente, respeitando as suas convicções, não ofendendo com palavras inusitadas e grosseiras, impróprias de pessoas de bem, está a dar um passo de gigante para se melhorar a si próprio e repartir a felicidade com os outros.

Bela lição esta que me deu o camponês e pescador de nome simples Timóteo Barqueiro, ensinando-me a partilhar com os outros, as alegrias, as cumplicidades e as coisas boas da vida. Bem haja ancião da liberdade e do respeito, licenciado na Universidade da Vida, que faz jus à velha máxima de que muitas vezes vale mais “ um ano de tarimba de que três de Coimbra”. Perdoe-me a lusa Atenas por quem nutro o maior carinho e respeito.


Barqueiro do Mondego


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